quinta-feira, 26 de novembro de 2009

OPOSIÇÃO IRANIANA REJEITA NOVO ACORDO NUCLEAR

Aprovado pela delegação iraniana à reunião de Genebra, o acordo proposto pelas potências do Conselho de Segurança mais a Alemanha está sendo combatido pela oposição reformista.
Depois de extensas discussões internas, o governo concorda que o Irã envie o seu urânio com leve enriquecimento para a Rússia e a França onde seria enriquecido a até 20% - suficiente para usos pacíficos mas não para produzir bombas. Só exige garantias de que receberá todo o urânio a que tem direito. Ou fazendo a troca, em pequenas quantidades, em território iraniano ou usando como intermediário um país confiável, no caso, a Turquia.
A oposição reformista, protagonista das maciças demonstrações populares contra as eleições que abalaram o regime, é radical na sua rejeição.
Houssein Moussawi, ex-candidato a presidente e principal líder oposicionista, declarou :”Se o acordo de Genebra for implementado pelo Irã, ele destruirá o trabalho e as conquistas (a descoberta das técnicas de enriquecimento de urânio) de milhares de cientistas. Se não for, criará consenso para serem impostas sanções por demais pesadas sobre o Irã. Eles (a linha dura dos aiatolás) constantemente acusam os reformistas de terem laços com o Ocidente mas eles próprios se curvam abertamente diante dos EUA (para conseguir um acordo com eles).
Para Ebrahim Yazdi, líder do Movimento Pela Liberdade (um partido reformista), trata-se de um acordo sem sentido :”O Irã investiu bilhões de dólares no enriquecimento do urânio e agora vai fazer isso (enviar o urânio enriquecido para a Russia e França) ? Não é do interesse nacional que esta crise nuclear persista. Como o Irã já sugeriu, deveria ser organizado um consórcio internacional no Irã para enriquecer o urânio aqui, não mandá-lo para a Rússia ou outro país.”
Por sua vez, o aiatolá Rafssanjani, ex-presidente do Irã, também um líder reformista de destaque, enviou carta ao Supremo Líder Khamenei, lembrando o alto custo do programa de enriquecimento de urânio desenvolvido pelo país, dinheiro que seria jogado fora caso o acordo fosse aprovado. Daí sua posição contrária.
Até os políticos exilados são contra. Como Etemad, ora vivendo na França :”Eles (as potências) querem pegar o urânio do Irã. Não há garantias de que a Rússia e a França, se receberem o urânio iraniano, o devolverão (enriquecido). Eles já quebraram seus compromissos no passado.”
Nada disso parece estar sendo levado em conta pelos estadistas americanos e europeus. Eles sequer aceitam a proposta iraniana de fazer as trocas em pequenas quantidades – não todo de uma vez – em solo iraniano ou de um país confiável.
Ciente disso, El Baradei, presidente do IAEA (braço da ONU que controla os projetos nucleares) apelou ao governo do Irã para que aceite o acordo tal como foi proposto em Genebra.
Difícil. Ainda que queira, Ahmadinejad teria contra, não só grande parte dos grupos que o apóiam, com também a maioria da oposição. Praticamente todo o país, portanto.
E com fundadas razões como as que aparecem expostas acima.

OBAMA CONTRA PROIBIÇÃO DE MINAS TERRESTRES

Enterradas nos campos e estradas durante os conflitos armados, elas continuam matando e aleijando - mesmo depois da paz – não mais soldados inimigos- mas camponeses, mulheres, crianças...
As guerras civis de Angola, por exemplo, terminaram há muitos anos. Desde 2002, o governo vem realizando intensas campanhas para descobrir e retirar as minas. No entanto, calcula-se que ainda existam de 5 a 7 milhões delas no país. 80 mil angolanos tiveram suas pernas ou braços amputados e cerca de 15% da população nacional acha-se em risco.
E Angola é apenas o 3º. país mais atingido pelas minas terrestres. Somente em 2009, 26.000 pessoas em várias partes do mundo foram vitimadas.
Neste ano, a maioria dos países do mundo vai se reunir em Cartagena, Colombia, para discutir meios mais eficazes de combater esse flagelo.
Será assinado um Tratado pelo qual as nações signatárias se comprometerão a banir as minas terrestres, interromper sua fabricação e liquidar as existentes em seus arsenais militares.
Os Estados Unidos, de Barack Obama, informaram que não assinarão.
Profunda decepção entre as forças que o apoiaram, que esperavam uma “mudança” geral, contrastando com a gestão de George Bush. Protestos dos grupos de direitos humanos e dos políticos liberais.
Aplausos do Pentágono, que há muito se opunha ao Tratado, e aos republicanos contrários a todo e qualquer acordo internacional que limite a liberdade dos EUA de agir militarmente do modo que desejar.
Cada vez mais se amplia o fosso entre o Obama da campanha eleitoral e o Obama da Casa Branca.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

SERÁ QUE O PESSOAL DA FOLHA LÊ A FOLHA?

Em 20 de novembro, a Folha publicou uma entrevista com Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina. As manchetes eram: ABBAS QUER QUE LULA DÊ RECADO A TEERÃ. LIDER PALESTINO PEDIRÁ AO BRASIL QUE INTERCEDA JUNTO AO PRESIDENTE DO IRÃ POR FIM DE APOIO AO GRUPO RADICALISLÂMICO HAMAS
Na abertura, o repórter Samy Adghirni, repetiu a mesma coisa.
Lendo o texto da entrevista, surpresa! Na resposta à pergunta da Folha sobre as benesses do Irã ao Hamas, Abbas disse apenas isto: ”Sim. O Irã apóia o Hamas com dinheiro. Espero que ele (Lula) possa dizer (a Ahmadinejad) algumas coisas a respeito de tudo o que acontece no Oriente Médio. Acho que o Presidente o fará.”
Onde está o pedido para o Irã parar de ajudar o Hamas ?
Estranho. Aparentemente, o próprio autor da entrevista não leu seu texto. Nem Clovis Rossi, em crônica publicada no dia seguinte na qual repetiu a informação errada.
Comeram barriga também o editor de política internacional – que deixou sair uma manchete mentirosa. E o ombudsman que não corrigiu o erro clamoroso.
Na verdade, se todos esses jornalistas lessem jornais internacionais sérios, como o Independent ou o Guardian de Londres, saberiam que Hamas e Fatá estão discutindo um acordo de paz. Sendo líder do Fatá, Abbas não iria arriscar esse entendimento, tentando prejudicar o Hamas publicamente.
Ou o pessoal da Folha não lê a Folha ou, o que é pior, lê sim o que mostra que não é só com o leitor que o jornal tem o rabo preso.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

PALESTINOS AM EAÇAM ABANDONAR PROCESSO DE PAZ

O Hamas já desistiu faz tempo.
E ,agora, a OLP, o movimento laico e moderado, que vinha confiando na “mudança” da nova diplomacia americana, parece estar a fim de ir pelo mesmo caminho.
Mahmoud Abbas, seu chefe e presidente da Autoridade Palestina, entidade que dispõe de poderes administrativos limitados sobre parte da Cisjordania, ameaçou encerrar o processo de paz iniciado em 1993.
Motivos não faltam.
O primeiro-ministro Nethanyu já deixou mais do que claro que não pretende devolver os territórios ocupados por assentamentos judaicos, nem consentir na existência de um estado palestino soberano, na integral acepção da palavra.
Depois de exigir que Nethanyu interrompesse as novas construções na Cisjordania como pré-condição para se reiniciarem as conversações de paz com os árabes, Obama voltou atrás. Hillary Clinton, sua Secretária de Estado, liberou o premier israelense a continuar construindo.
O governo israelense desenvolve um programa acelerado de desapropriação e derrubada de casas árabes em Jerusalém Oriental, onde elas são maioria, para judaizar essa área e tornar definitiva sua integração no estado de Israel. Apesar da ONU considerar ilegal, Obama jamais se manifestou contra.
Recentemente, o governo Obana aliou-se a Israel para rejeitar o relatório Goldstone que condenava os crimes de guerra israelenses no ataque a Gaza. Chegou a pressionar Mahamud Abbas para que retirasse o apoio ao relatório na Comissão de Direitos Humanos da ONU.
Há quem ache que a ameaça de desistir de negociar a paz seria uma tática da OLP para forçar Obama a sair de sua atitude passiva e falar duro com Nethanyu.
Acredito que pode ser verdade. Só duvido que dê certo. Tudo indica que Obama não tem força ou coragem para enfrentar os lobbies israelo-americanos, a maioria do Senado, da Câmera de Representantes, da mídia e do pessoal do Pentágono, que são 100% pró-Telaviv.
E não abrem.

JAPONESES CONTRA BASE AMERICANA

Em 12 de novembro, o presidente Obama vai ao Japão em visita oficial.
Problemas o esperam.
O governo americano estuda remover sua grande base localizada em Ginowan, capital de Okinawa, para uma região mais afastada da ilha.
Sucede que a população local quer o fechamento da base e a saída dos 47 mil militares americanos lá estacionados.
Pesquisa do jornal Mainichi revelou que esta é a vontade de 70% dos okinawenses. Yoshi Iha ,o prefeito de Ginowan está com eles :”O futuro de Okinawa deve ser decidido por nós, o povo. Não podemos deixar os americanos decidirem por nós.” Por sua vez, o primeiro-ministro Hatoyama, eleito em agosto com promessas de tornar as relações do seu país com os EUA “mais iguais”, já se definira pelo fim da base americana. E, na semana passada, esta posição recebeu o apoio entusiástico de 21 mil pessoas em manifestação realizada em Ginowan.
Só que os EUA não estão nem um pouco dispostos a aceitar esta reivindicação. Consideram a base de Okinawa de importância crucial para manter em respeito a sempre ameaçadora Coréia do Norte e a China, adversária cada vez maior pela hegemonia da Ásia. Os opositores japoneses retrucam que a base é útil para os EUA mas não para o Japão. Pelo contrário, em caso de problemas dos americanos com aquelas potências, poderia atrair ataques chineses ou norte-coreanos ao território japonês, coisa que nunca aconteceria se ela não existisse.
O Secretário da Defesa, Robert Gates, numa atitude até mesmo imperial, conclamou os japoneses a aprovarem a remoção da base de Ginowan para uma área mais isolada da ilha ANTES de Obama chegar ao Japão.
Aposto que não será desta vez que os japoneses dirão “não” à Casa Branca. Mas o problema vai provocar ruído, o que tornará mais possível uma negativa num próximo conflito de interesses entre os dois povos.

sábado, 7 de novembro de 2009

CÃMERA DOS REPRESENTANTES DOS EUA REPUDIA O RELATÓRIO GOLDSTONE

A Câmara dos Representantes (equivale à nossa Câmara Federal) dos EUA condenou o relatório Goldstone- referente à investigação da ONU sobre a guerra de Gaza- por 344 a 36 votos.
Taxou-o de parcial, com viés anti-Israel e “indigno de qualquer consideração”. Como se sabe, o relatório Goldstone acusou Israel e o Hamas – Israel muito mais – por crimes de guerra e contra a humanidade.
Aprovado pela Comissão de Direitos Humanos da ONU, vai agora à Assembléia Geral da entidade quando se discutirá sua proposta de solicitar a Israel e ao Hamas que realizem investigações sérias (devidamente monitoradas) para se apurar culpas e culpados.
Israel fez de tudo para bloquear o relatório, contando com o apoio dos EUA, cuja embaixadora na ONU, Susan Rice, acusou-o de conter muitos erros, além de ser tendencioso, apesar do presidente da comissão de investigação, o juiz sul-africano judeu, Goldstone, ser sionista e figura altamente experiente e respeitada internacionalmente.
Embora com reservas, França, Inglaterra e Alemanha, tradicionais aliados dos EUA, conclamaram Israel a realizar as investigações propostas.
No entanto, a força do lobby israelense nos meios políticos dos EUA é tão poderosa que os deputados americanos não concordam com essa medida que resolveria a questão de forma indubitável. Sustentam que as conclusões do relatório Goldstone não tem credibilidade e que, portanto, quaisquer investigações suscitadas por elas são descabidas.
Se Obama ceder e os EUA, tanto na Assembléia Geral quanto no Conselho de Segurança da ONU, obedecerem às imposições da Câmara dos Representantes, a credibilidade do presidente ficará totalmente comprometida diante dos países árabes. E as alentadoras idéias do discurso de Obama no Cairo ficarão apenas como ‘words, words, words.”

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

PROVADO: NOVA USINA DO IRÃ TEM USO PACÍFICO

O presidente Barack Obama denunciou Quds como sendo uma usina secreta do Irã, provavelmente parte de um programa de armas nucleares.
Agências de inteligência ocidentais informaram que ali se testara avançados engenhos dessa sinistra categoria.
E o major general Yadlin, do exército israelense, garantiu que a usina “não poderia ter nenhuma utilização civil.”
Todos estavam errados.
Quds, que não era secreta pois sua existência já havia sido prèviamente comunicada pelo governo de Teerã à IAEA(Agência Internacional de Energia Atômica, da ONU), foi minuciosamente investigada pelos inspetores da agência. E a conclusão, reportada por El Baradei (presidente da IAEA): a usina “não representa nenhuma preocupação”. Seu uso pacífico estava comprovado. Fora construída com o propósito de garantir a continuidade do programa nuclear do Irã no caso de Natanz, a principal usina do país, ser bombardeada por Israel ou pelos EUA.
Os objetivos bélicos nucleares só existiam na retórica de israelenses e americanos, a qual serviu para assustar a opinião pública do país de Tio Sam. E motivou os resultados das últimas pesquisas sobre a forma de tratar o Irã, amplamente favoráveis ao bombardeio, caso a diplomacia não fizesse Ahmadinejad ceder.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

CONSUMMATUM EST

"¿Está de acuerdo que en las elecciones generales de 2009 se instale una cuarta urna en la cual el pueblo decida la convocatoria a una asamblea nacional constituyente? = Sí…….ó………..No"
Este era o texto da cédula do referendo que causou o “impeachment” do presidente Zelaya. Por acaso, há aí qualquer menção à possibilidade dele ser reeleito?
Pelo que está escrito, o povo decidiria se nas próximas eleições do mês que vem, haveria uma urna para se votar pró ou contra a convocação de uma assembléia constituinte.
No entanto, a Justiça e o Congresso hondurenhos enxergaram de outro modo. Segundo eleso que se propunha era um segundo mandato para Zelaya, o que seria proibido pela Constituição e legalizaria o afastamento “manu militari” do presidente.,
O presidente Obama e a secretária Hillary condenaram a defenestração do presidente mas tomaram cuidado em jamais usar o termo “golpe militar”. Se tivessem usado, de acordo com as leis dos EUA, teriam de cortar toda ajuda e relações, inclusive comerciais, com Honduras. O que seria desastroso para os golpistas.
E isso, eles não queriam.
Seus objetivos eram bem outros..
De um lado, marcar nova uma imagem democrática e respeitadora do direito internacional para os EUA de Obama.
De outro, manter o governo golpista durante o tempo necessário para garantir a vitória de um candidato à presidência apoiado pela elite local e seus seguidores, os militares –tradicionais aliados da Casa Branca. Com ele no poder, Honduras acabaria abandonando a Alba e não se pensaria mais em nova Constituição – que eram, na verdade, os principais demônios a serem exorcizados.
De fato, a saída da ALBA enfraqueceria o incômodo Chavez. E a Constituição que Zelaya pretendia – com reformas sociais, econômicas e políticas, favoreceria as classes pobres e cortaria as azas dos grandes proprietários e das empresas americanas, como aconteceu na Bolívia, Venezuela e Equador, recentemente.
Tudo funcionou com precisão.
O governo Obama insistiu em soluções diplomáticas, limitando-se a efetuar algumas sanções cosméticas que, é claro, não comoveram os golpistas hondurenhos.
Finalmente, há 1 mês e pouco das eleições, Washington falou grosso e os golpistas acabaram aceitando a volta de Zelaya. Mas sob condições.
Zelaya teria de aceitar que sua volta fosse aprovada por um dos poderes locais. O presidente topou, escolhendo o Congresso.
E caiu na armadilha.
Em caso de rejeição, sua causa ficaria consideravelmente enfraquecida. Talvez em definitivo.
Sendo aprovado, problema nenhum para Obama e seus aliados da direita hondurenha pois não haveria tempo hábil para Zelaya influir na campanha eleitoral, viabilizando uma candidatura forte, de um seguidos de suas idéias. Ainda mais por que teria de carregar o ônus de um “governo de unidade” (outra condição do “acordo”), recheado de adversários que não o deixariam em paz.
Assim está terminando mais um triste episódio da História da América Latina, com a vitória de Barack Obama. Em toda a linha. Conseguiu o resultado político que almejava e saiu com uma imagem irretocável.
Vale lembrar o que Evo Morales disse há alguns meses atrás. Obama e Bush seriam iguais nas suas relações com a América Latina. A diferença estaria nos métodos.
Na ocasião, achei exagerado.
Agora, não sei, não.